terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A música Na Casa das Mestras e nos Chalados, no Meiral em Canidelo de Vila Nova de Gaia

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Manifestações poéticas também acontecem em Canidelo

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Cantigas de Amor, de Amigo, de Escárnio, de Maldizer e de Bendizer foram as primeiras manifestações poéticas – trovadorescas, surgidas na idade média, nos séculos XII a XIV, em Portugal, pelo pensamento e pela mão de El-Rei D. Sancho I e D. Dinis.
Também em Canidelo existiram pela certa os Trovadores da Idade Média, os do Romantismo, do séc: XVIII e XIX e, os Trovadores/tocadores, que, levavam pela aldeia o seu amor às moças que, enclausuradas viviam nas quintas de lavoura de seus familiares e, ou não.
Existiram também os tocadores e cantores de serenata, que, à noite, pela socapa, enrolados em capas, cantavam às janelas das casas onde sabiam existir moça bonita. Isto, era por vezes motivo de grandes rixas entre os donos das casas pais das moças e os poéticos manifestadores de amores clandestinos, que, não raras vezes dava em feridos e mortos. Chegavam mesmo a existir lutas entre as casas dos vários residentes, ficando daí rancores que perduravam depois, através dos tempos. Era vulgar também a luta e o duelo por espera, onde, alguém que se queria vingar de acontecimentos anteriores, atacava de surpresa, normalmente pela calada da noite.
Esta cantiga que apresento, não da idade média mas sim da actualidade, classificaria de Cantiga de Amigo e de Bendizer e, é de velho – novo autor, com mente sã, do século XXII,
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Sou Filho de Mea Villa
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Sou filho de Mea Villa,
De Mea Villa de Gaia,
Da Gaia do Rei Ramiro,
D´el Rei Ramiro da Villa.

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Das terras de Cannidello,
Cannidello, Sant´André,
Sant´André de Cannidello,
Terras D´el Rei D. Pedro e Inês.

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D´el Rei D. Pedro e Inês,
Inês de Castro, lá do Paço.
Lá no Paço do Moiral,
Nasceu minha mãe, outra Inês.

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Inês da Mestra, do Paço,
Das Mestras do Paço, Legatária,
Legatária da Casa das Mestras e Mãe,
Minha Mãe – e Viva o Mestre.

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João da mestra



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A TERTÚLIA DOS SESSENTA
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PARTE I
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Após cinquenta anos e uns meses mais,
Daqueles saudosos serões; Saraus Musicais,
Em que tão melindres éramos nós então,
Mas que nos deliciávamos já então,
Com os famosos músicos e a música do serão;
A violino com destreza pelo Lourival tocada,
E a piano com agilidade pela Filomena acompanhada,
E não raras vezes também pela mesma cantada,
Que nos dois papeis; pianista e soprano se desdobrava:
Com presteza e vivacidade nas teclas com fervor tocava,
E com sua poderosa voz de soprano com ardor cantava.
O pai orgulhoso assistia e em silêncio sofria de alegria,
Sempre tinha sido aquela a sua ambição de dia para dia,
Conseguiu-o para sempre a partir daquele dia.
A mãe assistia com as lágrimas nos olhos enquanto a Mena cantava
E ao Lourival incessantemente lhe pedia “ toca aí uma violinada”.
A avó via ali os seus meninos agora notáveis mas crianças, sempre,
Aplicados nos estudos, famosos e célebres mas sempre, crianças,
E ao Lourival e à Mena sempre os incentivava; toquem meninos.
E a menina tocava, o menino tocava, que até já eram bem crescidos
E punham os meninos a tocar, os outros meninos, os mais pequeninos;
E meninos continuam de sessenta e setenta; A jovem tertúlia.
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PARTE II
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Assistentes eram permanentes, daqueles Saraus,
A Constança, a Inês e o pai seu, irmão do meu,
Que vinham a pé desde Coimbrões, com grandes ilusões,
Já de noite escura, era uma loucura, por entre pinhais,
Durante três quartos de hora e chegavam mesmo na hora,
Com grande ansiedade, assistiam a espectáculo, de verdade,
Ficavam radiantes em todos os instantes que viam actuar,
O primo Lourival e a prima Filomena a tocar e a cantar.
Regressavam a casa, depois de noite passada, igual como vieram,
Todo o caminho a pé, sem nunca desistir mas não a pedir.
Hoje relembram com extrema saudade aqueles saraus de variedade.
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PARTE III
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Juntam-se agora outros artistas noutros serões,
De poesia e declamações com poetas de dois tostões,
De avançada idade e já caquécticos mas andam muito frenéticos,
A escrever prosa, verso e poema e, com este estratagema,
Passam o tempo e esquecem, a dor dos joelhos pela artrose,
Da coluna pela hérnia discal e, do coração que é já habitual.
Sarau de declamação do poema, que cada um criou e dá vida,
Ali naquela casa, reunida, a tertúlia dos sessenta e dos setenta.
E, fica alegre o serão, com a Inês, a Constança e o João,
Todos eles a ler e a declamar e, a Lurdes e o Clemente,
Na assistência a atrapalhar, com apartes barulho e confusão,
A interromperem o serão. E lá segue animado,
Até há uma da manhã com barulho, a perturbarem o silêncio ao vizinho,
Que, não tardará, chama a polícia, já de caminho!
E, todos nós a recordar, coisas passadas, antigas; Já que recordar é viver.
Mas muito recordar faz sofrer.
E assim acaba o serão, c´ao lágrima no olho e dor no coração.
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Homenagem a todos os que aqui menciono e que nos deixaram já, em altura muito recente ou mais alongada. João da Mestra

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1958/59

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1959



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Florinha na janelinha
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Lá na minha aldeia,
havia uma casinha velhinha,
mesmo defronte da minha,
onde uma menininha,
logo de manhãzinha,
aparecia à janelinha;
com um rosto bonitinho,
e um lindo sorrisinho,
pronta, logo me dizia,
- bom dia,
Quando eu era um menininho.
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Os anos passaram,
a idade avançou.
A casa derrubou,
a janela acabou.
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Hoje, a menina é velhinha;
naquele lugar, na janelinha,
está lá uma florinha,
que a colocou um irmão meu,
foi um presente que me deu.
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João da mestra

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/ em1963



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* 1963
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Eu violinista e o fenómeno André Rieu
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Desde há mais de cinquenta e três anos que o meu pai preceituou que eu fosse violinista. Não teria ainda seis e já eu andava de braços no ar a segurar aquele instrumento com forma de madame desnudada e o seu anexo – o arco - na posição de o fazer vibrar e, a fazê-lo vibrar mesmo, qual Chinês que, se vêm agora a tocar as Czardas, com quatro, como que aquilo seja uma brincadeira de criança, ou como que sejam robôs a baterias de energia solar, porque uma vez iniciarem a tocar nunca mais param.
O professor que tinha lá em casa era exigentíssimo e não dava permissão de eu baixar os braços a desleixar aquela posição de violinista diligente. Com o violino bem levantado, o braço e mão esquerda responsável por tal segurando-o bem seguro, bem no ar, enquanto que, com o braço direito fazia os movimentos de vai e vem com aquela comprida vara recta, onde, nas pontas prendiam as cerdas – elaboradas a partir de crina de cavalo –, (mas não tinham cheiro) a que se denominou de Arco. Com cotovelo dobrado, em baixo mas sem encostar ao corpo, o braço meio levantado, mais parecia um carpinteiro de serrote na mão a cortar o violino ao meio que, até rangia. Eu em um todo, numa posição bem vertical, erecto de Homo Sapiens, - foi há muitos anos mas já tínhamos saído da idade primitiva -, ali ficava a fazer rinchar aquelas quatro cordas de metal, que, para os sons saírem limpos era necessário pisa-las bem forte com a ponta dos dedos, o que era por de mais doloroso. Diga lá quem de direito se isto não é uma tortura. Pois, eu a praticava todos os dias e por várias horas. E, nunca obtive alforria nem me atrevia a pedi-la. Foi assim até aos dezasseis, obrigatoriamente. A partir dali foi voluntariamente.
Desde essa altura ouvia que, na música em Portugal não havia futuro, que era impossível viver-se da música, que Portugal era um país atrasado em musicalidade, - ouvia-se, bem entendido, à socapa, que, dizer isto era subversão. Mas, eu é que não obtinha a tal carta que me poderia libertar. Ser músico, de facto, naqueles tempos, seria somente por cultura geral, já que, para se ganhar o sustento seria pior que qualquer outra profissão. E, lá continuei eu a estudar para… o meu futuro…, sem futuro. Eu refiro-me sempre á música clássica, daí o futuro sem futuro, que, aqueles que profissionais o eram estavam votados, primeiro, por um país e um sistema que olhava pouco para esta Arte e, depois por uma mudança que ninguém sonhava, que, deu governos que só menosprezaram e achincalharam os músicos clássicos. Ninguém sonhava que iam acontecer aquelas mudanças, muito menos eu, criança, que, a única forma que tinha para me revoltar era… tocar violino, quer quisesse quer não.
Substancialmente diferente, foi, na realidade, o que se verificou passados uns anos; há cerca de uma vintena: O futuro dos músicos aí ficou arrasado quando os inteligentíssimos governantes de então mandaram encerrar a Orquestra Sinfónica do Porto e mais tarde a Orquestra Sinfónica de Lisboa, mandando todos aqueles profissionais – mais de cento e … (?) - para casa, - para a prateleira, como diziam – para convocarem, qual jogadores de futebol, com ordenados a quadruplicar, outros tantos músicos de toda a Europa, escolhidos a dedo, para se formar uma nova orquestra, de raiz, … porque, … porque o dinheiro para lhes pagar não era nosso, era de subsídios. Acabado que foi o subsídio, acabou a nova orquestra. Entretanto, alguns dos instrumentistas Portugueses faleceram, quasi de imediato, até por colapsos cardíacos.
Que rico, maravilhoso e opulento futuro me esperava, continuasse eu a fazer rinchar e vibrar o violino que nem Chinês que, agora quem vibraria e rincharia, era eu, que nem Português.
Surgiram imensas novas escolas estatais de música em Portugal e, agora não é necessário aprender em casa, como outrora. O ensino da música, nas suas bases, passou a ser leccionado também nas escolas secundárias e, após estas, poder-se-á optar pelos conservatórios de música ou pelas escolas profissionais.
Mas, para fazer mudar a mentalidade das massas ou para a mudança de uma determinada questão, nada como os fenómenos e, aqui, como no futebol, quando surge, como surgiu, um Cristiano Ronaldo, logo todos se lhe seguem (tentaram seguir) as pisadas, inscrevendo-se em clubes e em escolas de futebol – era a febre do Ronaldismo, que, não do Cristianismo (!) Também, presentemente, acontece um fenómeno em Portugal, importado como sempre, este, dos bons fenómenos e das boas importações, para bem da música denominada de clássica; André Rieu.
Este famoso Violista – André Rieu - e a sua orquestra, assim como os excepcionais instrumentistas, coros e as vozes – como os famosos tenores e sopranos – todos os inúmeros convidados, - fez mudar ou, está a fazer mudar a mentalidade e a postura que os jovens e todo um povo, no nosso país, tinha ou tem perante a música clássica e, o mais importante, veio dar razão que, as orquestras são para manter, não para encerrar.
É fantástico assistir a estes Gloriosos concertos, que, tenho assistido por DVD, já que, quase impossível é assistir ao vivo – porque não vem a Portugal e, se vier, imagino o preço (?) dos bilhetes e o número de pretendentes ao espectáculo.
São um sem número de fantásticos – assombrosos - extraordinários instrumentistas; um sem número de maravilhosos personagens; um sem número de ilustres autênticos que mais parecem irreais, convidados; conduzidos por um admirável violinista – André Rieu.
Do lado de lá, naqueles impressionantes concertos, estão outros tão fantásticos intervenientes como os primeiros, - que cantam, que riem, que dançam ou, não fossem as valsas e as polcas para dançar, que demonstram uma alegria fantástica, que choram de alegria/ emoção, que vibram sem preconceitos, protocolos e etiquetas; do lado de lá é outro espectáculo com outros artistas.
Oxalá que Portugal mude e os nossos governantes também, no que toca ao tratamento que dão aos instrumentistas das orquestras e da música clássica, para que os jovens não desistam de a aprenderem conforme eu desisti.
Agora, resta-me ver e ouvir André Rieu ao pequeno-almoço, almoço e ao jantar, ao levantar e ao deitar e, nos intervalos.
VIVA A MÚSICA CLÁSSICA – assim ouvia eu no final de todos os concertos da Orquestra Sinfónica do Porto a que ia assistir ao Rivoli, quando ainda jovem, por alguém que EXTASIADO, EXTASIADÍSSIMO, clamava a plenos pulmões do meio da plateia. E não era a orquestra de André Rieu que tocava, era a nossa tão querida, extinta que foi pelos políticos, Orquestra Sinfónica do Porto.
Pois então, VIVA A MÚSICA CLÁSSICA, VIVA A EXTINTA ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO e os instrumentistas que a compuseram. Paz á alma dos que faleceram na maior das desilusões.
ABAIXO OS POLÍTICOS QUE DESTROEM AQUILO QUE TEMOS DE BELO
Faço homenagem aos educadores e professores de música que tive, pelo seu esforço, compreensão e dedicação para comigo; Ao professor e distinto compositor e maestro César de Morais que me introduziu no coro da sua orquestra de música sacra. Aos meus dois irmãos mais velhos, distintos profissionais músicos que, no seu tempo de descanso após chegarem a casa de um longo dia de trabalho e estudo no Conservatório de Música do Porto, diariamente me ensinavam: violino - o irmão violinista e, piano e solfejo - a irmã pianista e coralista – soprano.
Ao meu pai, que, com um enorme esforço, sempre idealizou para mim a distinta profissão de músico, - conforme para meus irmãos – e, a Arte de ser violinista, até ao dia em que viu, impotente, ao seu filho - meu irmão - já formado em violino, ser-lhe, por imposição de um sistema ditatorial, trocado o violino por uma Mauser e, enviado para a guerra em Angola e, uns anos mais tarde, o ver desempregado, causado por uma bestialidade política: Diferença de mentalidades com todos os países da Europa, incluído o país de André Rieu, comparada com a mentalidade tacanha que nem da idade média, de quem deveria de ter a cultura suficiente para saber, que, a cultura de um Povo faz falta; também a cultura no campo musical.
Muito obrigado.
VIVA A MÚSICA CLÁSSICA – VIVA AS ORQUESTRAS NACIONAIS PRESENTES - VIVA A ORQUESTRA DE ANDRÉ RIEU
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João da mestra

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DE PIANO E VIOLINO PARA A GUITARRA;
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1965/6
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>>>>Primeiro, iniciei a tocar em viola de caixa ou violão clássico, a música clássica. Depois, dediquei-me á música ligeira e de baile, em guitarra eléctrica.
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CONJUNTO SOL NASCENTE

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Em 1965 integrei o Conjunto Sol Nascente, onde, cerca de dois anos, participei em vários espectáculos musicais, tardes e noites dançantes e variedades. Foram diversas as colectividades de Vila Nova de Gaia e não só, onde actuei, conjuntamente com os quatro outros elementos.
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ESPECTÁCULOS DE BENEFICÊNCIA A FAVOR DA CONFERÊNCIA DE S. VICENTE DE PAULO DE CANIDELO, REALIZADOS NA ASSOCIAÇÃO RECREATIVA DE CANIDELO - CLUBE DOS CHALADOS - EM 1963 E 1965
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A apetência para a música, através de muitos e variados instrumentos, que, cada criança ou adolescente se dispunha a aprender durante um ano inteiro, para, no mês de Setembro de cada ano demonstrar no espectáculo a favor da Conferência de S. Vicente de Paulo, aquilo que se propunha executar, era de elevado grau de execução para a idade.
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A iniciação na récita, na declamação, no teatro infantil, praticou-se durante alguns anos por várias crianças de Canidelo. Levadas pela mão de pessoas que, com uma dedicação extremosa, ensaiavam horas e dias a fio todas aquelas pequenas e pequenos grandes artistas.
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A combinação da música instrumental individual ou em conjunto, dos enormes coros, das récitas, da declamação, levavam ao mais alto nível os espectáculos, infantil, realizados entre os anos de 1963 e 1966 naquelas instalações do Clube dos Chalados, já tradicional em espectáculos de tal natureza desde longas décadas.
*A
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Espectáculo infantil de benemerência realizado na Associação Recreativa de Canidelo - (Clube os Chalados)

Assim se ocupavam as crianças dos lugares de Meiral, Verdinho, Quatro Caminhos, Rua da Bélgica, Fonte lodosa, Barracões, Canastreiras, enfim, de toda a freguesia de Canidelo.

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em 1963



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em 1966


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majosilveiro

2 comentários:

  1. AOS CANIDELENSES;
    Se é natural da freguesia de Canidelo e tem cerca ou mais de cinquenta e cinco anos, ou se aí reside aproximadamente este mesmo tempo, poderá conhecer alguma das crianças, hoje homens ou senhoras, que participaram em algum destes espectáculos e, que constam nos dois programas aqui apresentados, de 1963 e 1966. Se assim acontecer, se conhecer o próprio, um irmão, um familiar, comunique-lhe este Link e informe-o desta página. Se participou nestes ou noutros espectáculos do mesmo cariz,- porque outros se realizaram em outros anos,- se acontecer obter fotos destes espectáculos, divulgue ou entre em contacto. (para poder ver os nomes com nitidez terá que clicar em cima da foto para a aumentar)
    >
    Ao reler os nomes destes antigos amigos, verifiquei que, alguns não estão já entre nós. Faço, ou, pretendo fazer, uma singela homenagem àqueles que não estão já no nosso seio, mas que, estão no nosso meio, unidos pelos laços da Esperança. Que descansem em PAZ.

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  2. Amigo

    Parabéns pelo teu trabalho, não hã duvida que tens uma capacidade de escrever enorme..bem hajas pelo teu lindo testemunho..
    Um abraço /mélita

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