quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ainda sou do Tempo: Alcunhas e Apelidos de Canidelo





Ainda sou do tempo: -

Alcunhas e Apelidos de Canidelo



Sou o João, da mestra e do mariola rasga-a-manta. Filho da Inês da mestra e neto do António mariola, o rasga-a-manta. Bisneto da Rosa da mestra.

Vivíamos no Canidelo profundo, no século anterior, no tempo da outra senhora, (mas, qual senhora? Até usava chapéu de aba larga). Ouvia alguns assim dizerem, (1951 – 1974) no entanto, nunca via a senhora quando o diziam.

Tinha por tios o Manel ou Manelinho, também lhe chamavam o Manelzinho da mestra. (Deu um grande senhor. Lembram-se daquela enorme e conceituada casa comercial, Manuel Ferreira da Silva, na Rua de Santa Catarina, no centro do Porto, de ferramentas das mais conceituadas marcas estrangeiras? Ele a fundou há mais de 100 anos na Rua Mousinho da Silveira. Foi a mais importante da Península Ibérica. Pois saibam que, quando iniciou com aquela empresa o almoço ia-lhe à porta do trabalho levado à cabeça pelas mulheres que transportavam os baús em chapa, das lancheiras. Quando terminou, vencido pela velhice aos oitenta e tal, o almoço ia-lhe pelos mesmos meios e, vivíamos já na época do automóvel que ele nunca teve. Almoçava e, a mulher do baú esperava pelo dito, para o trazer de volta. Foi somente para comparar com a vidinha que uns tesos agora, com automóvel, levam e que almoçam em restaurantes diariamente. Claro que, as firmas não duram 75 anos, se tanto, 75 meses ou…, 75….dias).

Outro tio que tive, Agostinho mariola, tinha a camioneta de carga e mudanças na Estação das Devesas. Depois, passou a ter um táxi no mesmo local. O táxi inicial foi o “vinho verde”, o outro esqueci o nome. Também meu avô, António mariola, o filho da Rosa da mestra, teve o mesmo ofício, uma camioneta de transportes nas Devesas. Uma tia, a Emilinha da mestra, era a mulher do tio Agostinho mariola. Este que, por casamento  adoptou o apelido do cunhado, - mariola).

A vivência no Paço (nome antigo da Rua do Meiral) era familiar entre os vizinhos, porque todos se conheciam e viviam irmãmente (quando não havia esperas no cemitério que, era o local onde se ajustavam as contas. Ouvi várias vezes contar que, o meu avô, (mariola ou rasga-a-manta) que parece que não era de se ficar, quando lhe ficavam a dever do fornecimento do carvão de choça, do mesmo mas de bolas e das achas, tratava de receber fosse a que custo fosse e, o local de pagamento era na parte onde a rua (o Paço) passava entre muros, junto ao cemitério; uns sopapos bem dados e bem acertados era remédio santo. É que, naquele tempo não existiam firmas para cobranças difíceis. Certa vez ouvi também contar que, uma vez a quem acertaram o passo foi ao meu avô; enfim, quem dá também leva.

Os vizinhos todos se conheciam; Os “feijoeiras” família que morava ao lado, - a Clarinha feijoeira era a anciã. Do outro lado a família Braga, - o senhor Joaquim e a Rosinha Braga. A Miquinhas leiteira que, distribuía o leite pela freguesia. A família Bendeira (devia ser Vendeira, mas, lá, era a Bendeira) – Minha mãe tinha uma admiração e respeito pela anciã Bendeira porque era velha amiga da sua avó, quando viva. Sempre que precisava de saber algo antigo a respeito, ou de conselhos, era a ela que recorria. Os do Cravo, com vários ramos familiares.  Dos Lacerda “bufa”, uma enorme família. A família Coteiro (bem, poderá ser Cuteiro). Polona, uma família pobre e numerosa. A família do senhor Jaime da lenha, “o rei da acha”, porque negociava com aquela. O senhor André alfaiate, pessoa muito respeitada que tinha toda a família consigo na costura ( sentado na soleira, na porta principal, passava os meus dias a ver coser à mão, à máquina, a passar a ferro, ele a mulher e as filhas.)

E quem não conheceu o Jacinto? O São Cosme, assim lhe chamavam. Figura típica do lugar do Meiral. Era o paisinho, o baby siter, a ama, o entreteiner, que brincava na rua com as crianças, jogando ao peão, aos cowboys, aos polícias e ladrões, às escondidas, ao arco, que ia com magotes de catraiada roubar fruta à quinta do moinho e, que tomava conta de todas as crianças (porque ele era um homem com mais de trinta), nunca faltando com qualquer responsabilidade aos pais dos meninos.   

Na parte mais funda e mais antiga de Canidelo, chamemos-lhe a zona mais histórica da minha aldeia, existiam a família do senhor “Hermes”, o barbeiro; fantástica pessoa onde ia para o cortar pentear à moda de Elvis Preisly. A família “Cidade” que era o merceeiro da terra, conjuntamente com outra, a família “Chaminé”. Também a família “Bessas” que se dedicavam à agricultura.

Quantas tantas “alcunhas e apelidos” temos mais pela Freguesia de Canidelo em Vila Nova de Gaia. Fica para a próxima, para continuar com esta saga.



João da mestra, 29 de Outubro de 2011

majosilveiro

1 comentário:

  1. Pois eu conhecia perfeitamente os Cidade e também os Chaminé. Os Bessa tenho ideia de que são da mesma família do Sr. Zé Cidade ou não? Também havia os Vasconcelos (cuja mercearia com taberna já apareceu num post do seu blog), o Sr. Rouxinol... Lembro-me também do sr. Francisco pasteleiro, junto ao Tono da adega, e de muitos outros, porque era por ali que ia aos recados em criança. Belos tempos que não voltam!
    Um abraço,
    Madalena Ribeiro

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